Levanto-me com essa certeza
as areias são um caminho
no qual liberto, nunca sozinho,
as correntes da correnteza.
Escrevo, relaxo, escrevo,
ajo, calo, olho,
sonho sem ter de dormir
para no jogo das sombras sumir
mas não posso estar só.
Eterno voltar sem nunca ir.
A força escorre de meus braços,
espalhando-se por todo o corpo
no compasso de um segredo.
A solidão é o nada
não creio no nada
ou antes tenho em tudo e com todos fé
e volto as mãos ao céu num gesto mudo.
O velho e a criança sorriem para mim,
não os conheço, não sei sequer seus nomes,
porém os amo, como o barqueiro ama o rio
que para outros é um obstáculo.
Escuto seus sibilos, suas palavras
de coração e sabedoria,
são meus parentes e afins.
O raiar do dia revela
a face do sol, máscara rara.
Ao respirar, perco-me
ou melhor, perdemo-nos todos
ante à alva nudez da mãe do mundo
o hino de seu ventre fecundo.
Mergulho nas águas frias
que acalmam a alma
cura para o sangue quente.
Silencio, guiado pela luz da vela.
Até mesmo os panos me fazem companhia
afloram memórias no peito
de praias, casas, retratos,
lugares distantes ao alcance da mão
amigos e uma grande paixão.
Nunca estive sozinho.
Tantos entes na mata
transcendem, transformam, afetam,
contam sobre um mistério ancestral:
o mundo existe afinal.
O mundo existe,
no escuro canto esse milagre.
Não sou poeta, cego ou rei
sou o que sei e nada sei.
Nenhum homem é uma ilha
agradeço a ti, minha filha.
Praia do Bonete, Ilha Bela
2 de janeiro de 2008
2 de janeiro de 2008
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