Conforme envelheci, a sensação foi se atenuando – a memória desbotando a cada nova viagem de carro – até sumir completamente. Eu não a sentia mais e mesmo a lembrança de um dia tê-la sentido se tornou efêmera como um sonho.
Agora, enquanto dirijo de volta para casa, a memória sensação me vem mais forte do que nunca. Infância. Pode ser só efeito do álcool; da tristeza. Mas não é. Eu sei disso. Sou fraco.
Bar, amigos, convívio social. Geralmente, isso é motivo para me entreter. São poucas as noites em que tenho companhia, em que consigo combater a solidão. Mas esta noite foi diferente. Nem a companhia de amigos nem a fal-cidade conseguiram vencer minha solidão. Foi uma daquelas noites em que mesmo em meio a uma multidão eu estava só. Inexoravelmente só. Ela era a única pessoa que poderia me ajudar; me salvar do desespero. Ela gosta de mim. Mas gosta mais dele.
cONtinuO PENSanDo nELa Ela GOSTa de MiM soRRi pRa mIm qUER mE AjUdAr EU sou sOzinho UMa cRiAnÇa SEM paZ uMA criANÇA com MEDO De MorrER SoZiNHA NUm CARrO elA taMBÉm é umA CrianÇa CoM meDo de MoRrER sozINHA sOMOs tODOs pequenos CIcloPES COM mEdo da morTe com medO cEGOs e sEm PAZ pOrQUe ela GostA mAiS DELE aS coISas não TêM porquE sÃo o QUe São E proNTo
Ela gosta mais dele. Amo-a e ela gosta mais dele.
A morte parte de minha barriga e percorre toda minha espinha se espalhando pela minha mente. Corpo entregue, espírito derrotado. Pequeno e frágil ciclope. Mas desta vez não tenho a visão. Com frieza, desengato o carro na descida, tiro as mãos do volante, desafivelo meu cinto e afasto os pés dos pedais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário