O homem que a escreve não sabe muito bem o que fazer dela. Ele hesita durante muito tempo, e ela não lhe perdoa. Para ela, ele é apenas um criador frio e distante, sem importância. Para ele, ela é um monstro fora de controle. Ele quer que ela seja uma história bonita, sobre amor e um príncipe e uma princesa. Mas o que ele quer nada vale, é a historia que manda. Quem tem poder para negar?
O autor teme a história. Teme que ela, como faz toda criação, acabe por devorá-lo impiedosamente. Só lhe resta uma escolha, o sacrifício; a história deve acabar, assim, prematuramente. Por favor, não culpem o homem que a escreve, ele nada pode fazer. Ele deve matá-la agora, antes que ela assuma o controle. Não digam que ele peca, ele não tem escolha. Culpem a história, é ela quem se acha melhor do que as outras, é ela quem peca. Porém, o homem não pode se isentar de toda a culpa. Todo criador deve se responsabilizar pela sua criação, mesmo que esta fuja ao seu controle. Ele pediria seu perdão, mas de que adiantaria?
São Paulo
2002
2002
Nenhum comentário:
Postar um comentário