Amor de criança

“A saudade é arrumar o quarto
Do filho que já morreu”
Chico Buarque, Pedaço de mim

Quão mágicas são as saudades
Caminhando livremente
Por labirintos em nossas mentes
Algumas, anãs, quase não se percebem
E passam sem cumprimentar
Nem mesmo um bom dia.

Outras, mais desgastadas, tornam-se indiferentes
Aos poucos perdem-se sobriamente
Em meio a tamanha multidão
Cinzas e desbotadas
Tristes como uma memória de guerra

Há também as saudades apressadas
Essas que passam sem olhar pro lado
Que se matam todo dia
Mas nem por isso deixam de ser saudades.
São melancólicas as saudades
Caminhando a esmo em nossas casas
Ocasionalmente abrindo uma porta
E libertando um preso de seu cárcere

Por isso, sempre que trancar alguma coisa
Jogue a chave fora
Ou os fantasmas do passado
Podem voltar para lhe fazer uma visita

São Paulo
2003

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