Não me matarei

Ao meu anjo torto que vive na sombra

Carlos, acorde, o amor
passa e não o vejo;
os beijos envelhecem com o tempo,
depois de amanhã é quinta-feira
e no sábado já não mais
aqui estarei.

Inútil, resisto,
não vou me suicidar.
Não me matarei, oh não me matarei,
já sou reservado,
não para as bodas
que não virão,
mas sou reservado.

O amor, Carlos, você vermelho,
as águas vêm e vão,
e os desejos se recalcando,
lá fora um barulho infindável,
propagandas,
carros,
homens que se disfarçam em santos,
anúncios do melhor prazer,
barulho que ninguém pergunta
praquê, porquê.

Portanto você se deita,
calado e horizontal.
Você é o cravo e o silêncio
que não quis gritar no teatro
pois ninguém o ouviria.
O amor morto, não, vivo,
é o mais triste que há, meu mestre, Carlos,
mas não dizes mais nada a ninguém,
ninguém sabe nem saberá.

Um comentário:

  1. Seus poemas me fazem pensar demais...
    Eles sao mais inteligentes do que eu possa compreender e mais profundos do que eu possa fazer.
    Adoro todos eles!
    Beijooos

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