Paraty

Escrevo um poema Paraty
Mas não posso te salvar
E pesa-me essa derrota.
Sei que não passam de palavras
Que nunca serão capazes de conter a lua cheia, de contar a noite insone, de cantar o canto alheio
Pior de tudo, não serão capazes de ser o agora
Este tão precioso momento
Inclinado, sabe-se lá porque, a se perder lentamente, sem que nós percebamos
A mutar-se em passado
Cada vez mais incerto do que é
Mas com a certeza crescente de que deve continuar a ser
Até que nossos olhos se cansem de ver, nossas bocas de repetir, nossos corpos de tocar
Até que o medo, os erros, a solidão, a velhice e tudo mais conspire para o nosso fim
Até que o tempo faça de nós história

Paraty, Rio de Janeiro
Natal de 2002

Um comentário:

  1. Falar qualquer coisa ou mesmo ficar calada diante desse poema seria um crime. É tão lindo! Tão maravilhoso que dá vontade de roubar ele pra mim...
    Beijo!

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