Numa manhã de sol
Acordo num lugar que não conheço
Não lembro do dia de amanhã
A casa em que estou não tem endereço
Será um sonho ou só um espírito me pregando peças?
As paredes estão de cabeça pra baixo
O tempo passa ao contrário, mas eu já estou acostumado
As pequenas criaturas coloridas correm pra lá e pra cá
Arrumando o local para a chegada de um visitante inusitado
Será um sonho ou só insônia?
As plantas nascem do concreto
E uma delas é minha namorada
Os cães latem para nós, espectadores, que estamos presos nesta jaula
Nos jogam comida e fazem cafuné em nossas cabeças
Será um sonho ou só mais um dia de aula?
As janelas têm uma forma inexistente
E são de uma cor que eu nunca vi
Dois pilares se erguem, formando um padrão dolorosamente incoerente
E os coelhos marcham no ritmo da duracell
Será um sonho ou só loucura?
Os móveis rangem sem parar
Tocando o Barbeiro de Sevilha
E o pica-pau decapita Beaumarchais
Será um sonho ou só televisão em excesso?
As portas estão todas trancadas, com milhões de cadeados
O circo está sempre armado, os palhaços riem de mim
E eu nunca encontro nenhuma chave que se encaixe
Será um sonho ou só uma alucinação induzida pelo ácido?
Estou velho, morrendo aos poucos
Vendendo o que produzo para sobreviver
E sobrevivendo para vender o que produzo
O espelho reflete a minha própria imagem
Será real ou eu só caí no sono outra vez?
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