Assassinato

Acordo agitado
no meio da noite.
A mulher que comigo dorme
não sabe de nada.

A cama está suja.
É preciso limpá-la
antes que ela perceba.

Me pergunto:
Terei mesmo feito isso?
Sou um assassino?

Pode ser só um sonho recorrente
essa lembrança que tento esquecer
mas que continua voltando
que se esconde sabe-se lá em que cantos obscuros de minha mente.

Matei alguém.
Matei uma pessoa.

Escondi todas as provas,
joguei o corpo numa boca de lobo,
cobri meticulosamente meu rastro,
emparedei até mesmo as razões para que não atrapalhem minha loucura.

Ninguém conhecia a vítima.
Não tinha parentes ou amigos
ou inimigos.
Creio que era uma mulher
como essa que dorme
talvez uma mãe.
Sou mil vezes culpado.
Por matá-la, por não amá-la,
por nem sequer saber quem era
reduzi-la a uma sombra no canto do espelho
uma lágrima sufocada
um poema que ninguém lerá

São Paulo / Macapá
Março de 2016

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